Já parou para analisar o tanto de plástico que a gente consome diariamente? Desde um saco de feijão àquele pacote de bolachas que vem com outros quatro pacotes de bolachas dentro.
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Durante a pandemia do novo coronavírus, o consumo de plástico aumentou muito, com a maior demanda de materiais hospitalares, como o uso de máscaras e luvas, e, também, devido à expansão do comércio de entrega de alimentos. Segundo os dados da “World Wildlife Fund (WWF)”, no Brasil, apenas 1,28% do plástico produzido é reciclado. Além disso, no estudo inédito, o “Atlas do Plástico”, realizado pela organização sem fins lucrativos alemã “Fundação Heinrich Böll”, de 70 mil a 190 mil toneladas do material são despejados anualmente, no mar brasileiro. Portanto, gera-se um sério problema para a fauna e a flora marinha, o que, por conseguinte, prejudica a saúde das pessoas e o turismo – afetados pela crise sanitária. Para piorar, o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar, que foi lançado em 2019 pelo governo federal, encontra-se paralisado desde março deste ano e não há previsão de retorno, sem o desembolso dos R$ 40 milhões que seriam destinados a essa tarefa tão necessária.
Em 2018, no Brasil, foram produzidas 79 milhões de toneladas de lixo, sendo que, desse número, 11,3 milhões de toneladas são de plásticos, o que corresponde ao percentual de 13,5%, caracterizando o país como o quarto maior produtor de resíduos plásticos do mundo. Ademais, conforme o Ibope do mesmo ano, 75% dos brasileiros não separaram os recicláveis. Então, de acordo com a presidente do Instituto Geração Oceano X e coautora de um dos artigos do “Atlas do Plástico” Larisse Faroni-Perez, a dupla tributação pode desincentivar a reciclagem, tendo em vista que os produtos plásticos são taxados na produção e, depois, no momento de buscar reciclá-los.
A nível mundial, o “Atlas do Plástico” prevê, até 2025, uma ampliação de 50% da produção atual de plástico – excedendo 600 milhões de toneladas do material que serão gerados por ano. Essa previsão, por sua vez, é extremamente preocupante, pois o lixo acarreta poluição nos oceanos, rios e solos. Além disso, consome de 10% a 13% do limite estimado de emissão de carbono, colocando em risco, também, a meta de evitar a irreversibilidade da crise climática, que visa a limitar o aumento da temperatura da Terra a 1,5° C desde o período pré-industrial, deixando de cumprir o Acordo de Paris.
O plástico está relacionado com o petróleo, o ingrediente básico para sua fabricação, e apresenta uma característica alarmante: ser praticamente indestrutível. Para uma matéria na “National Geographic”, o cientista-chefe da “Ocean Conservancy” George Leonard afirma: “Para mim, o maior problema é a questão da permanência. Se não controlarmos o problema da poluição por plástico nos oceanos, corremos o risco de contaminar toda a cadeia alimentar marinha, desde o fitoplâncton até as baleias. E quando a ciência chegar a esse ponto, talvez concluindo que se trata de um problema definitivo, será tarde demais. Não será possível voltar atrás. Essa enorme quantidade de plástico estará impregnada na fauna marinha permanentemente”. Então, é indispensável que a forma estrutural de fabricação, consumo e descarte dos plásticos seja repensada, de imediato. Assim, efetivando mudanças que solucionem o catastrófico problema com esses resíduos.
Já que a campanha mundial para conter a poluição por plásticos carece de resultados concretos, outras medidas precisam ser buscadas. Consoante a isso, um projeto desenvolvido pela ONG “Pew Charitable Trusts” e pela “SYSTEMIQ, Ltd”, formadoras de ideias ambientais sediadas em Londres, pede a reformulação total da indústria mundial de plástico, a fim de transformá-la em uma economia cíclica de reúso e reciclagem. Ainda é muito incerta a prática dessa transformação, contudo, se for efetivada, especialistas afirmam que o escoamento, por ano, de resíduos plásticos nos oceanos pode ser reduzido em 80% nas próximas duas décadas, devido ao uso de métodos e tecnologias já existentes. O custo para essa mudança é de U$ 600 bilhões e, embora pareça ser um custo muito alto, é U$ 70 bilhões mais econômico do que continuar com a crescente demanda por fabricação de plásticos. Ademais, a quantidade de vidas que serão poupadas nem se compara a algum valor monetário.