Enfim, entramos em 2021. O calendário mudou, mas a rotina não. Salvo para aqueles que curtiram uma virada de ano de verdade, na praia, sem estresse, sem preocupação e também sem bom senso e sem responsabilidade. Nas avenidas dos municípios do litoral de diversos estados, fluxo intenso. Não apenas com a circulação de muitas pessoas, mas também um claro desrespeito às regras de prevenção à Covid-19, como a ausência de máscaras. Já nas faixas de areia, dezenas de guarda-sóis ocupavam o espaço dando abrigo aos banhistas, e no mar, também era possível ver aglomerações. “Preciso cuidar da minha saúde mental”, alguns justificam. Será que alguém pensou na saúde mental daqueles que perderam entes queridos e dos profissionais da saúde? Provavelmente, não.
Em abril do ano passado, quando fazia cerca de um mês de uma tentativa de isolamento social, muita gente dizia que as pessoas precisavam trabalhar. Que as pessoas precisavam sair para garantir a comida na mesa. Com o tempo, parte da rotina voltou e os trabalhadores, em especial os mais pobres, estão igual sardinhas dentro dos ônibus. Silêncio absoluto. Ninguém se importa. Boa parte de quem proferia esses discursos, sequer preocupam-se com o cuidado e proteção desses trabalhadores, diante da exposição a uma doença tão infecciosa.
Agora, os mesmo perfis tentam utilizar – abusadamente e descaradamente – a mesma lógica para justificar suas presenças em meio às aglomerações nas praias. Você quer mesmo comparar? Ninguém está obrigando você a estar na praia. Inclusive você, presidente.
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Neste exato momento, profissionais de saúde estão preocupados com uma “bomba-relógio” no sistema de atendimento em diversas cidades brasileiras, após a “saidinha da virada”. Médicos, enfermeiros, técnicos e todos aqueles na linha de frente temem pela explosão de novos casos no ritmo em que estamos. Dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país mostram que as mortes por Covid-19 no Brasil aumentaram 64,45% de novembro para dezembro. Mesmo antes de terminar, dezembro já era o mês com mais mortes pela doença desde setembro. Cenas como a da foto acima ajudam a explicar como chegamos a este ponto.
Não há esperança para mudar a mentalidade de quem, de fato, não se importa com o que estamos vivendo. Nada do que dissermos vai modificar a conduta e isso é uma crise social grave. Como viver em sociedade se grupos de pessoas não sabem viver em sociedade? O egoísmo é a força motriz do sistema econômico que vivemos. Mas é importante deixar registrado, porque o jornalismo e a história não perdoam.