Numa tarde ensolarada de domingo, Aurora – uma gentil menina – lia um conto utópico na aconchegante sombra de uma árvore. Tudo ao seu redor colaborava para a permanência da paz. Entretanto, de repente, um vento forte impulsionou as folhas caídas na grama para um voo distante e as árvores, que antes permaneciam conectadas com suas raízes, foram lançadas em meio à tempestade que se formava. Em alguns minutos, a chuva e a ventania se intensificaram, levando consigo o livro de Aurora.
A menina, desnorteada com a situação, procurava refúgio, mas até as casas dos passarinhos tinham sido destruídas. Em instantes, a água tomou conta da superfície e a única opção que a jovem tinha era a de seguir a correnteza, nadando em um novo mar que abrigava espécies de bolsas, sapatos, sacolas e canudos. Durante o percurso dessa viagem inesperada, outras pessoas e animais se juntavam a ela, em rumo ao incerto.
O momento era apavorante, com gritarias de desespero e pânico, somadas a choros que clamavam por misericórdia diante do fim. Para Aurora, uma moça sonhadora de 16 anos, o presente era as cinzas das metas de seu futuro e sua única esperança era que a natureza fosse como uma Fênix. Porém, poderia o simbólico se manifestar na matéria? Foi aí que, mesmo em meio ao caos, enquanto relutava para não se afogar nem colidir com os destroços que estavam por toda parte, a jovem lembrou de uma reflexão que sua mãe fazia: “O que a gente cria está na natureza, pois somos feitos de natureza”.
Esse pensamento foi uma luz tão forte que serviu para acordar Aurora do pesadelo. Ainda estarrecida, aos poucos, ela foi se recompondo até perceber que a utopia continuava ali em suas mãos, oriunda da prima daquela mesma árvore que lhe possibilitava acolhimento.