Quem define o que é música de verdade?


Funk é música de verdade? E sertanejo? Pagode? Samba? Na verdade, a pergunta a se fazer não é essa. A pergunta a se fazer é: por que QUALQUER música não seria música “de verdade”?

            Existe na nossa sociedade atualmente uma parcela de pessoas que acredita que só o que elas gostam é que é válido, seja em que área for. E, até certo ponto, tudo bem, essas pessoas tem todo direito de gostarem mais de alguma coisa e menos de outra, desde que não queiram impor seus gostos pessoais ao resto do mundo. O problema maior é quando artistas tentam invalidar algum tipo de arte, como se existisse um jeito certo (e, com isso, um jeito errado também) de se fazer arte.

            Isso existe em todas as áreas das artes: cineastas que não consideram animações como cinema, artistas visuais que não invalidam histórias em quadrinhos, e qualquer tipo de artista que não consideram jogos digitais como arte. Num geral, quanto mais pop, mais desmerecido é. Mas é na música onde essa discussão ganha maior repercussão, com artistas de todas as áreas se considerando mais cultos, inteligentes e superiores por apreciar e/ou fazer música de determinado tipo.

            Como eu já disse diversas vezes aqui, a arte é a representação da cultura de um povo, não o contrário. Não é a arte que molda o povo, é o povo que cria a arte. Sendo assim, logicamente podemos concluir que, se determinada arte existe, é porque existe alguma parcela do povo que reflete nisso. Ou seja: o funk ou o sertanejo só existem porque eles representam uma parcela da população. E uma parcela grande, atualmente.

            O funk, por exemplo, é uma cultura trazida das periferias de todo o Brasil. Já o sertanejo é um exemplo de sucesso de um estilo de música vinda do interior da região centro-oeste, talvez uma das mais esquecidas do país. São dois exemplos de cultura que dão voz a quem não vive nos grandes centros do país. É um jeito de se comunicar sem utilizar todo um “academiquês” para representar uma parcela do povo. E eles só existem hoje porque são populares.

            Não adianta querer calar as vozes de quem, historicamente, não pode se expressar. Temos apenas que aceitar, apreciar e, mesmo que não gostemos, respeitar e entender. A existência desses estilos diferentes veio para ficar, quer gostem ou não. A nossa história será contada desse jeito, de uma forma cada vez mais democrática. Cabe a nós apenas não sermos contra.