Volta e meia, o centrão


A direita brasileira está em um noivado com a extrema direita. Aqui, o chamado centrão abre os braços para o bolsonarismo e fecha os olhos para as atitudes mais reprováveis dos seus – nem tão – novos aliados. A jogada é manjada: para o governo, é benéfico ter ao seu lado a ala de partidos que dão as cartas no Congresso. 

Após a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para o comando da Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para a presidência do Senado, ambos do centrão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ameaçado pela queda de popularidade, pela gestão problemática da pandemia e pelos 69 pedidos de impeachment protocolados no Congresso, depende deste casamento para a sua continuidade no cargo. Se engana quem pensa que o presidente não sabe por onde anda. Pelo contrário, é muito esperto. A festa de casamento ganhou um bom investimento: alguns bilhões em emendas parlamentares e promessa de cargos em ministérios. Ou seja, exatamente da maneira que prometeu que não faria: liberando recursos e negociando cargos por apoio. Entre eles, o acordo promete entregar o comando da principal comissão da Câmara à deputada Bia Kicis (PSL). Para quem não lembra, a parlamentar já divulgou teorias da conspiração sobre a vacina e afirmou que “a cloroquina mata o coronavírus”. 

Com isso, Bolsonaro abraça de vez a velha política que sempre criticou. O horizonte? A campanha de 2022. Em vez de tirar Jair Bolsonaro do jogo, políticos de PP, PL e DEM querem apoiar a reeleição de um presidente que boicota a saúde e rebaixa a democracia. Mais uma vez, o Centrão retoma o protagonismo nos rumos do país.

O perigo está não só para nós, reles cidadãos em busca de uma vida melhor e uma sociedade justa. O presidente também está na corda bamba. Ele acha que controla o centrão, mas, desde Collor, o governo na verdade é controlado. Já dizia o provérbio milenar: “quando o navio afunda, os ratos são os primeiros a abandonar o barco”. O Brasil está a caminho do precipício e quando chegar na beirada, o centrão não vai abraçar. Pelo contrário, vai virar as costas e fingir que nunca fez parte ou contribuiu para isso. Há anos estamos caindo neste papo. Já é hora de mudar.