Vamos pensar numa banda de quatro músicos, ou seja, quatro artistas. Se eles forem fazer um show, um artista vai fazer a luz desse show. Se eles lançarem um CD, um artista vai fazer a capa, outro artista vai mixar as músicas, mais um artista vai fazer a propaganda desse CD. Se fizerem um filme documentário sobre essa banda, um artista vai dirigir, outro artista vai fazer o roteiro, mais um artista vai gravar tudo. Se fizerem uma biografia dessa banda, um artista vai fazer o texto, outro artista vai fazer a capa, outro artista vai tirar a foto para a contracapa, além dos artistas que vão fazer a divulgação desse livro. Tudo isso sem contar todos os técnicos, vendedores, produtores, roadies, motoristas, jornalistas, publicitários, câmeras, editores, redatores que vão se envolver com todo esse trabalho.

A arte e a cultura não são nenhuma brincadeira de criança que envolve apenas alguns amigos apoiando. A arte e a cultura giram a economia. Geram empregos.Fazem parte da sociedade de maneira muito mais ativa do que simplesmente entretenimento. Trabalhar com arte é uma profissão como qualquer outra, onde todos queremos ter nossos direitos de trabalhador respeitados.

Infelizmente ainda é um setor de muito trabalho informal. A estabilidade de uma carteira assinada é artigo raro. A sociedade ainda não enxerga esse trabalho como uma profissão de carreira, que bota comida na mesa, o que desvaloriza todo o ramo. Isso acaba precocemente com carreiras muito promissoras, que se veem num buraco sem saída quando as contas começam a se acumular.

Nós artistas ouvimos muito dos mais próximos sobre a fama. Recebemos parabenizações por aparecer na TV, recebemos aplausos por sermos citados num jornal, temos o carinho e o prestígio quando apresentamos nosso trabalho. Mas tudo isso não nos ajudam a nos sustentar. Quem quer torcer por um artista não deve torcer para ele ser famoso. Deve torcer para ele ter trabalho todo mês.