A classe mais desunida


Sejam atores, sejam músicos, sejam técnicos, existe um consenso entre toda a classe artística: falta organização em busca de direitos básicos. Existem vários movimentos que, timidamente, tentam se juntar para algumas causas específicas, mas é muito pouco comparado aos ataques que a classe sofre diariamente.

            Nós já vimos, por exemplo, um movimento em busca do direito ao cachê teste, para quando atores precisam fazer teste de elenco para filmes e propagandas. Era um valor baixo, considerando o fato de que o ator precisaria reservar um tempo considerável do seu dia, se deslocar até o local, executar uma amostra do seu trabalho e ainda correr o risco de não ser chamado. Mas pelo menos era mais do que nada. Só que isso gerou outro movimento das produtoras: para não precisar pagar esse valor, se aboliu os testes presenciais. Agora a grande maioria utiliza vídeos para esses testes (o que, convenhamos, é muito mais prático).

            Pode ser considerado uma conquista da classe, mas é pouco. O governo nos retira tudo que pode sempre que pode. Nós vemos, por exemplo, a Usina do Gasômetro fechada há anos, correndo o risco de ser privatizada a qualquer momento, e o que é feito pela classe dos artistas (todos artistas, no caso, já que a Usina era um espaço para as mais variadas artes)? Nada. Nem um movimento. Nem um protesto. Nem uma petição online ou uma nota de repúdio, que fosse. Apenas aceitamos calados.

            Os sindicatos, que deveriam ser os nossos grandes aliados, já que tem a força para reivindicar tudo que nós não conseguimos sozinhos, infelizmente não ajudam, já que são muito desorganizados. Falta a eles a força que tem outros sindicatos, como os da educação, por exemplo. Não apresentam direção nenhuma, não incentivam nenhum movimento, não unem a classe de maneira nenhuma, e raramente se manifestam sobre algum assunto importante.

            No meio disso tudo, a classe enquanto classe trabalha contra ela mesma. O capitalismo estimula uma competição canibal entre nós, nos colocando uns contra os outros, e uma grande parte cai nesse jogo. Ao invés de nos juntarmos, porque juntos somos mais, vivemos numa eterna disputa dentro da cena, seja por um estilo de arte que se considera superior, seja por um grupo de artistas que não valorizam os trabalhos locais, seja por uma ideia ilusória de que existe algo melhor ou pior, como se estivéssemos em uma arena de gladiadores uns contra os outros.

            A classe dos artistas, assim como muitas outras, sofre ataques que querem o seu fim, como já foi tentado com o fechamento do ministério da cultura. Para combater isso e sobrevivermos, não adianta remarmos sozinhos contra essa maré. Só organizados em conjunto iremos superar todos esses ataques e sobreviveremos em busca de condições de trabalho melhores, mais humanas, mais sustentáveis, mais rentáveis. Afinal o mundo precisa de nós vivos.