O fim da Cia de Arte


Não é de hoje que o teatro gaúcho sofre ataques vindos de todos os lados. O teatro Sete de Setembro, de Rio Grande, construído em 1832, foi demolido propositalmente no longínquo ano de 1949, muito antes da ditadura, por exemplo.

            Em pleno século 21, mesmo com todo avanço que tivemos, ainda temos que lidar com privatizações de espaços públicos, como o Araújo Vianna, e outros sendo arbitrariamente fechados para supostas reformas, como o Teatro de Câmara Tulio Piva, o Teatro do IPE e a Usina do Gasômetro.

            Nesse meio todo, vem a história do Centro Cultural Cia de Arte. Desde o início de sua história, um espaço de luta e resistência. Passou por todos os percalços possíveis, várias ameaças de fechamento e privatizações, que se intensificaram nos últimos.

            A Cia de Arte é talvez o espaço mais democrático da cidade para artistas em geral. Desde grupos de capoeira, passando por oficinas de dança, canto, teatro, até as apresentações no seu teatro, tinha de tudo. Diferente de outros lugares que se precisa de um edital para ocupar, a Cia era aberta a qualquer um que chegasse com vontade de fazer arte. Era administrada por uma associação de artistas, nada melhor do que gente que entende da coisa pra cuidar dela.

            Sua relação com a Secretaria da Cultura de Porto Alegre nunca foi das mais fáceis. Ultimamente, o secretário do governo anterior tentou de várias formas fechar a Cia para uma suposta obra, por não ter mais condições de continuar aberta nas condições em que estava. De fato, o prédio envelheceu mal, e as condições nunca foram as melhores, mas a Cia de Arte sempre se manteve, resistindo a tudo e todos, continuando aberta, de pé.

            No dia 8 de abril, em um post no Facebook, a própria página da Associação anunciou o fechamento do Centro Cultural Cia de Arte, que não resistiu à pandemia, tendo sido completamente abandonada pelo governo municipal. E nós recebemos essa notícia com enorme tristeza, mas sem surpresa, infelizmente.

            O teatro gaúcho vai continuar a existir e resistir. Já passou por todo tipo de ataque, passando inclusive pela censura da ditadura, e seguiu existindo. Vencemos todas as concorrências e nunca nos entregamos. Mas é cansativo demais ter sempre que remar contra a maré. Um governo sério, preocupado de verdade com a cultura da cidade e do estado, são necessários com urgência.