Porto Alegre é demais?


Pedimos licença aos leitores de outros locais do Brasil, mas neste semana precisamos dar um destaque para a cidade na qual nasceu o Redação CT: Porto Alegre. Muitos devem achar que é por conta do aniversário. A cidade completou 249 anos na última sexta-feira, 26. Mas é difícil comemorar diante do cenário que vivemos. Não só por conta da pandemia, mas os últimos anos têm sido de sofrimento para os habitantes de uma cidade tão linda, mas que está largada, sem atenção daqueles que deveriam cuidá-la. Há anos que a cidade vem sofrendo com desmontes, abandono, falta de políticas locais, crises e mais crises. Como comemorar assim?

Se já não bastasse todos os itens citados acima, que já existiam muito antes da pandemia, mas foram ainda mais agravados com ela, temos um colapso de saúde neste momento. E, com isso, fomos destaque. Mas um destaque negativo. Um dos maiores jornais do mundo, o The New York Times, publicou uma matéria neste sábado, um dia depois do aniversário de Porto Alegre, sobre o colapso enfrentado no Brasil pela pandemia da Covid-19. O principal foco do texto? A capital gaúcha, Porto Alegre, que é apontada como uma “próspera cidade do sul do país, mas que está no coração do problema enfrentado pelo sistema de saúde nacional”. Correspondentes do jornal americano estiveram aqui na cidade, visitando hospitais e funerárias, acompanhando protestos e conversando com trabalhadores da saúde e autoridades. Durante a apuração, viram pacientes mais jovens e em estado mais grave nos hospitais, funerárias sobrecarregadas e médicos exaustos pedindo reforço no isolamento. Enquanto isso, o prefeito da cidade, Sebastião Melo (MDB), fala em salvar a economia. Foi assim que a cidade, conforme o jornal, virou o epicentro da crise da saúde no Brasil. Mesmo neste contexto, Melo assinou decreto que autorizava a abertura de serviços não essenciais nos fins de semana e feriados. A Justiça suspendeu, alegando que a prefeitura está em desacordo com o governo do estado, que adotou medidas mais restritivas para conter a pandemia. Mesmo assim,  Melo afirmou que recorreria da decisão. A Justiça manteve a suspensão.

A reportagem do The New York Times foi manchete do site do jornal da manhã até o início da tarde de sábado, e escancara para o mundo o que já estamos cansados de gritar em território nacional: o colapso do sistema de saúde brasileiro era previsto. Se já não bastasse o espalhamento da variante do vírus de Manaus, mais contagiosa, ainda precisamos lidar com brigas políticas e desconfiança na ciência. Hoje, o Brasil é o país que mais soma novas mortes e casos de coronavírus por dia no mundo. O responsável, segundo o The New York Times, é o presidente Jair Bolsonaro, que:

  • Minimizou a ameaça do vírus;
  • Chamou de “gripezinha”;
  • Promove remédios ineficazes para tratar a doença;
  • Incentiva aglomerações;
  • Critica as tentativas dos governadores de impor isolamentos mais rígidos. 

Segundo o The New York Times, epidemiologistas dizem que o Brasil poderia ter evitado o colapso se o governo tivesse promovido o uso de máscaras e distanciamento social e negociado o acesso às vacinas desde o ano passado. Ora, não seria isso uma conduta incompetente, irresponsável e genocida? Opa! Esquecemos que o presidente não gosta de ser chamado assim. Compreensível, vindo de um homem que não gosta de verdades. Quantas mortes Sebastião Melo e Jair Bolsonaro precisam ter nas mãos para serem responsabilizados?