Vem, vacina!


Desde 2018, o número 17 tem sido sinônimo de irresponsabilidade, incompetência, violência, discriminação, corrupção e, mais recentemente, genocídio. Ainda que o presidente não seja mais filiado ao partido que o elegeu, o número ficou marcado. Ironicamente, após diversos boicotes, tanto velados quanto descarados, do governo federal, em um dia 17, A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, por unanimidade, o uso emergencial das vacinas Coronavac e da Universidade de Oxford contra a Covid-19. Coincidentemente, o Dia Nacional de Vacinação também cai em um dia 17, mas é de outubro. Essa numerologia não é importante, mas são curiosidades divertidas neste momento de esperança.

Finalmente, a vacina chegou! O governo de São Paulo aplicou a primeira dose da CoronaVac na tarde de ontem. A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, moradora de Itaquera, na Zona Leste da capital paulista, foi a primeira pessoa, fora dos estudos clínicos, a receber a vacina. Mulher, negra, Mônica faz parte do grupo de risco para a doença, e atua na linha de frente contra Covid-19 no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. A fala dela após a receber a dose foi marcante: “Falo com segurança e propriedade, não tenham medo”. Um incentivo para os brasileiros confiarem na ciência e um tapa na cara do negacionismo. A vacina é segura. 

Falando em tapa na cara, não podemos deixar de ressaltar que nos pareceres e votos que embasaram a aprovação do uso emergencial das vacinas, servidores e diretores da Anvisa refutaram a existência de tratamento precoce contra a covid – defendida pelo Ministério da Saúde e por Bolsonaro com base em medicamentos comprovadamente ineficazes, como a hidroxicloroquina. Antes do início dos votos dos diretores da agência, a gerência-geral de medicamentos argumentou, em seu parecer, que a recomendação pela aprovação dos imunizantes se justificava pelo atual cenário da pandemia, aumento do número de casos e ausência de alternativas terapêuticas. Ou seja, não existe tratamento precoce. Tanto não existe que o Twitter colocou um alerta em uma publicação do Ministério da Saúde, indicando que pode conter “informações enganosas e potencialmente prejudiciais”. A postagem, da última terça-feira, orienta a população a quem apresentar sintomas da Covid-19 a solicitar o tal “tratamento precoce”. 

Agora, é o momento de confiar na ciência, e não em mentiras ideológicas. Tudo isso para lembrar que, apesar de Bolsonaro, os brasileiros serão vacinados. Graças aos servidores públicos, aos cientistas e aos voluntários de pesquisa. Este domingo foi histórico. Venceu a ciência. Venceu o SUS. Obrigado, Butantan! Obrigado, Fiocruz! Estamos aguardando nossa vez, ansiosos. Vem, vacina!